ANIMA DECOLORUM EST

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sábado, 6 de junho de 2009

Óia aí meu livro, gente!

Amigos, estou lançando um livro! Viva! Viva! Nada de Schopenhauer e seu exemplar pessimismo, que está quase virando marca desse blog. É ficção, mistura policial, psicológica e humor, além, é claro, de umas severas alfinetadas pra não perder o costume.
O cartaz é esse ai. Que as deusas do sucesso me sorriam.

Cartaz do evento


Trecho de Os Moinhos

A fama é mesmo uma coisa trágica. É impressionante a diferença no tratamento que você recebe quando é apenas mais um e quando é O Ator. As pessoas passam a se sentir inseridas numa outra realidade quando estão perto de alguém a quem os outros veem apenas por meios eletrônicos. Pior ainda é quando se torna perceptível a diferença no comportamento dos colegas com os quais se dividia o mercado. O cara se torna influente e, mesmo que não tenha a menor formação intelectual para a crítica, todos querem a sua opinião. O telefone não para de tocar. Sair com ele torna-se programa cult. Sua família se torna a melhor do bairro. Estar próximo torna-se indispensável. Até mesmo os primos que lhe tacharam de bichinha quando garotos se tornam seus novos amigos de infância. As idiossincrasias são suportadas. Todos se tornam puro sorriso. Mostrar que são seus amigos íntimos é status. Ou então comentam.
Ele está na TV, vocês viram? Deve estar ganhando um rio de dinheiro. Podia ajudar a família necessitada.
Ele se torna o primeiro par de ouvidos das mais quentes fofocas. Todos lhe contam em primeira mão o que seus desafetos pensam dele. Falando neles, os desafetos ficam numa posição muito desconfortável, pois são vilmente desprezados. Desprezá-los passa a ser o primeiro passo para conquistar a amizade d’O Ator. Ou seja. Os muitos lados da Hipocrisia.
Abre parêntese.
Certos exemplos de cultura inútil vêm bem a calhar. Sabe como eram chamados os atores na Grécia Antiga? Hypokrités. Ou seja, aqueles que fingem ser o que não são.
Fecha parêntese.
Tudo somado. Sabendo como era o fim, tratei de modificar o começo. Quando estava em Belo Horizonte rechaçava sem parcimônia os colegas que, até poucos meses antes, nem olhavam para mim nas estreias e vernissages. Imitava o blasé de suas expressões e fingia nem lhes notar a presença. Aos primos eu ameacei com advogados se continuassem a importunar minha vida. A quem vinha me contar fofocas de desafetos eu mandava fofocar com a puta que o pariu. Fiz de tudo para que aqueles que nunca me quiseram por perto se mantivessem bem distantes. Àquela altura eu preferia ser tachado de insuportável, chato, arrogante, do que ser acessível demais e ter de suportar hipocrisia.
Assim, pelo menos a princípio, fui deixado em paz.