ANIMA DECOLORUM EST

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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

MINHA REDAÇÃO DO ENEM

“A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”

Uma das piores coisas que pode acontecer a um ser humano é nascer mulher. É um ser cultural e socialmente fadado a não dar certo. Dependendo da cultura, desde o nascimento a mulher serve de "boneca de vodu" para todo tipo de violência. 
Nas sociedades ocidentais, é tradição a menina já ter as orelhas furadas para "registrar" que é menina. Desde pequena ela é abduzida a brincar de "mãe" com as bonecas, pois afinal será esse seu único papel possível. Variações do tema como brincar de "comidinha", de "casinha" são tidas como naturais, de tão arraigadas estão estas premissas. A menina cresce mais um pouco e "aprende" que deve sempre vestir rosa e esperar o "príncipe encantado". Nessa idade, ela nem vai saber o que diabo tem de errado com o azul, nem pra quê serve um príncipe, mas já aprende que, vestindo azul e sem príncipe, ela jamais será feliz. Crescendo mais um pouco, ela "aprende" que o menino foi configurado para mandar nela, e que seu único lugar no mundo é ao lado daquele que a escolheu. Ela chega a frequentar uma Escola de Princesas, pois é isto que ela é, uma donzela-da-torre aguardando o seu salvador montado num corcel branco - tem que ser branco, pois ela "aprendeu" também que tudo que não é branco ou rosa é ruim. Se essa menina é negra, então, ela vai "querer" que seu cabelo e pele sejam iguais aos da branca, e vai fazer de tudo para isso. Aliás, se essa menina é negra, ela "aprende" desde cedo que seu lugar nunca será na sala de visitas, onde estão os brancos - esses, sim, são os "Donos da Razão". Um pouco mais desenvolvidas, se elas desejam trabalhar, percebem logo que sempre vão receber menos que os homens que cumprem a mesma função e que, se reclamar, terá de escolher entre se submeter ou ficar desempregada.
Nas sociedades orientais o buraco é bem mais embaixo. E põe embaixo nisso. Começando do nascimento: na China, se nasce fêmea, é preferível deixá-la morrer; na África, se é albina, é certo virar comida de leão; no Oriente Médio, só não veste burka porque pode se sufocar. Um pouquinho mais desenvolvida, começam as "adequações": as africanas têm seu clitóris infibulado porque nas tribos não é permitido à mulher sentir prazer - quanto menos excitada estiver, melhor, pois para o homem africano é mais prazeroso que a mulher esteja "sequinha". As chinesas tem seus pés amarrados e espremidos para não crescer - mulher de pé "grande" (calçando 33, por exemplo) é "feia". Em Myanmar ela recebe o primeiro dos anéis que vão esticar seu pescoço para deixá-la "mais atraente". Crescendo um pouco mais: não há para onde se virar, sempre vai haver alguma coisa da qual será vítima - guerrilheiros estuprando tudo o que encontram pela frente, patrões que exigem que ela fique sentada a uma máquina de costura 16 horas por dia - se se levantar, outra desempregada desesperada ocupa seu lugar.
Em qualquer destas idades ela será abusada/estuprada porque "nasceu pra isso", não importando qual o traje que esteja usando, mesmo as de burka. É só pra isso que ela serve: buraco pro cara enfiar o pau e gozar ou, no mínimo, um naco de carne respirante para bolinar. E ai daquela que reclamar.
Ai daquela que ousar não seguir estas regras.
Ai daquela que tiver a petulância de se assumir como negra.
Ai daquelas que se organizarem.
O mínimo que escutarão é o mimo verbal de "vagabunda".
E a culpa é de quem?
Enganam-se aqueles que responderam que apenas os machos-brancos-adultos são os culpados. Isto é maniqueísmo clichê, colocar a culpa só nos "dominantes". Todos somos culpados, indistintamente de raça, cor, credo, idade, cultura. Este é um bolo indigesto dentro do qual estamos todos entalados. 
Progresso? Tivemos, claro que tivemos, mas não são exemplos fortes o suficiente para puxar atrás de si milhões de outros indivíduos reprodutores desta ignomínia. É preciso mais, é preciso muito mais. Estamos apenas começando: já percebemos que estamos na lama.
Agora é sair. Precisamos nos lembrar o tempo todo que estamos no Século XXI, e que o ser humano não é mais Neanderthal há mais de dez mil anos.