ANIMA DECOLORUM EST

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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Frustrações

Minha terapeuta me falou para não ficar sufocando minhas frustrações. Reconhecê-las e permitir que elas sigam seu curso. Assim, é mais fácil se livrar delas.
Preceitos budistas já diziam isso. Tanto a felicidade quanto o sofrimento têm duração curta. O que dá a eles a sensação de que se prolongam é o valor que damos a eles.
Então, imaginem o tanto de palavrões com os quais gostaria de exorcizar minhas frustrações mais recentes. Só imaginem, e me imaginem também berrando, dando socos na parede, essas coisas que gente louca faz e que, só agora, compreendo. Elas não são loucas, loucos somos nós, que implodimos nossa loucura ao invés de a explodirmos.
Todo mundo tem suas frustrações, todos os dias. Um zíper que não fecha, por exemplo. Um livro que não acaba como gostaríamos.
Vivo recebendo e-mails dizendo para viver cada segundo de cada vez, mas é difícil. A gente está acostumado a viver o agora pensando no daqui a pouco, e quando o daqui a pouco chega nos frustramos pois não aproveitamos o agora no devido tempo.
Outra coisa. Estou precisando ser mais cruel. Sou muito bonzinho, desde criança. Aprendi com meus pais a ser mais tolerante com as coisas, mas acho que agora posso construir minhas próprias convicções. E uma delas é que estou sendo bonzinho demais. Obediente demais (antigamente se falava "Bem-mandado"). Frustrado demais. Chega.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Babagamush e aquele Gesto Obsceno

Tenho tendência a querer ver filme israelense e palestino. Geralmente a temática é super original. Lemon Tree, por exemplo, é maravilhoso. Em Valsa com Bashir, entretanto, dormi na maior parte. Já os filmes de Eitan Fox, Yossi & Jaegger e Bubble, são ótimos.
Eu tinha duas opções ontem, mas estou numa fase de vida que filmes do tipo que tem temática ISOLAMENTO e cenas de sexo explícito e mutilação, e nome Anticristo, dirigido pelo mesmo cara que estuprou os sentidos de Björk, não está me atraindo muito. Acabei por escolher o israelense.
De cara tinha um cara do meu lado que ficava comentando o que via na tela. Ou seja, uma das muitas versões das vilãs Pipocas Infinitas. Levantei e fui lá para trás.
A história seria boba se fosse filmada no Brasil: um incidente de trânsito tem consequências improváveis na vida de um pacato israelense. Resumi demais? Bem. O israelense (Michael, pronuncia-se Mirhael) é o típico ser passivo que, tentando resolver o que ele achava que merecia, embarca numa viagem que o transforma completamente. E o leitor pergunta: onde está o gesto obsceno disso? Bem... perguntou, agora aguenta.
A esposa está nervosa. No trânsito, faz uma babaquice: deixa a porta do carro aberta, impedindo o trânsito. Um outro carro para, e está impaciente, buzinando. Ela faz um gesto obsceno. O carro impaciente arranca e arranca a porta aberta, quase atropelando a esposa. Michael assiste a tudo, passivamente, mas anota a placa do carro. A história começa mesmo quando Michael finalmente vai à delegacia registrar queixa, e descobre que o dono do carro é um bandido que tem a polícia nas mãos.
É tensão do começo ao fim. Parece que o cara está sempre fazendo o que não deve, mas isso é ponto de vista de brasileiro, que está acostumado à bandidagem fazer e acontecer na cara e não fazer nada, porque, se fizer, vem um acólito e enche de bala. Por outro lado, é típico da cultura de regiões de conflito como Israel que, quando a justiça oficial falha (e é falha) o jeito é fazê-la com as próprias mãos. Michael é o anti-herói que se transforma em herói, principalmente aos olhos da esposa e do filho, e que ainda sorri no final.
Saí do cinema com uma sensação esquisita. Será que vai ser sempre assim, a cultura desacreditando as instituições públicas e vice-versa? E vamos ficar passivos diante disso? Sinceramente, acho que sim. Quem é passivo não se compromete...
Só que tem uma hora em que, assim como Michael (que pode ser até um link com Michael Douglas em Um Dia de Fúria), a tampa da panela de pressão estoura.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Estranhezas

Bom, tudo bem. É bem verdade que estou chegando ao milionésimo fundo de poço da minha vida. É bem verdade que sei perfeitamente que vou me safar de mais este. Aprendi com os Budistas que tudo, nem felicidade nem sofrimento, são perenes. A diferença entre os dois é o valor que você dá para cada um.
Estou conquistando algumas coisas boas na minha vida. E, é claro, aplicando algumas coisas que aprendi quando mais moço. Uma das filosofias mais bacanas que já conheci foi numa revista em quadrinhos: "Cuidado com as pessoas quando subir, pois vai encontrá-las quando descer". Tem até versão: "Os peixes comem as formigas quando as águas sobem; as formigas comem os peixes quando as águas descem".
Tenho tomado bastante cuidado com as pessoas nessa minha ascensão lenta - mais lenta que o meu desejo ou meu merecimento. O interessante é que estou me decepcionando com algumas pessoas. Minha maior dúvida é se fiz ou não a coisa certa para lidar com elas. Se fiz o certo, não estou tendo a recíproca. Se não fiz, paciência. É melhor seguir adiante. Não posso pedir desculpas, pois não tive nenhuma má intenção.
Vou encontrar estas pessoas quando elas descerem. Não sei qual será minha reação. Estou decepcionado com elas hoje, não sei se estarei amanhã. A qualquer momento serei alguém importante, será que vou me comportar do mesmo jeito que elas? Sei lá, sou iluminado demais para me comportar do jeito que esperam.