Meus amigos,
Passei muito tempo sem atualizar meu blog, fiquei até com medo de perder a assinatura do Blogger. Para os que me acompanham sempre, me desculpem, uma porção de fatores me impediram de escrever ou postar fotos nos últimos meses. Mas estou de volta.
Não, definitivamente ainda não entramos no Século XXI. De jeito nenhum. Creio que nem no Século XX consigamos um dia chegar. Na verdade, ainda estamos na Idade das Trevas, ou Idade Média. Os filósofos humanistas foram um breve suspiro em nossa sociedade. Isso mesmo, voltei com carga total ao pessimismo humanista. Nossa sociedade é uma merda. Cheguei a esta conclusão depois que, finalmente, resolvi comprar uma assinatura de jornal. Não, não se preocupem, sei perfeitamente filtrar o que é tendencioso e o que é fato. Pretensões políticas à parte, um jornal é sempre um bom veículo para o pessimismo. Está tudo lá, como disse a Soninha Francine (SP), “notícia boa não é notícia”. É uma em cem. E tome venda de jornal.Uma beleza.
Provas não faltam. Um camarada prende e estupra a filha sistematicamente por vinte e quatro anos. Não fosse a morte por negligência de um dos filhos que ele fez nela, ele pegava seis anos de prisão e, se se comportasse direitinho, sairia em menos tempo. Outro resolve assaltar uma menina e, seja por estar chapado de crack ou porque ela encheu o saco por causa de um crachá estúpido, mete uma bala na cabeça dela. Assim, sem emoção nenhuma, a menina era só um saco de carne ambulante, mesmo... Outro idiota, provavelmente obedecendo àquelas vozes que não paravam em sua cabeça desde que viu americanos assassinarem sua família quando criança no Vietnã, entra numa universidade e mata uma porção de gente, inclusive um camarada que só não virou bandido em Pernambuco porque sempre acreditou que venceria na vida através dos estudos. Que piada, meu Deus. A menina, mancomunada com o calhorda do namorado, decide matar a amante do calhorda que estava grávida, e envenena os três filhos da infeliz, provavelmente um de cada namorado. O bispo pernambucano, com o aval do mesmo papa que afirmou, em plena África, que o preservativo não garante a diminuição da epidemia de aids no continente, decide excomungar a mãe, a menina de nove anos e o médico que abortou os gêmeos que a menina esperava, correndo risco de vida. O padrasto que estuprou a menina e a engravidou ficou de fora da lista porque, para a igreja (nunca mais escrevo esta palavra com inicial maiúscula), aborto é mais grave que estupro. Beleza. Quer dizer que, se eu fizer apologia da maconha, vou preso, mas se eu disseminar que estupro não é tão grave assim, eu ganho bênção? Quer dizer que a igreja é a favor da vida, mas se a menina morresse ao dar a luz aos gêmeos, o direito à vida estava assegurado? Que vida é essa que tem de ser defendida com tanto empenho, se ela é estuprada todos os dias, ou, no caso da África, se ela passa fome? Que vida é essa que tem menos valor que um crachá? Que vida é essa se, depois de mais de vinte anos de luta, alguém mete uma bala na sua cabeça porque tem vozes gritando dentro pra ele fazer isso?
Esqueçamos a Ecologia. Fechemos o Greenpeace. Deixemos a humanidade fazer o que quiser, ops, quer dizer, obedeçamos ao papa. Executemos publicamente nossa catarse. Em pouco tempo seremos extintos, graças a Deus. Só nosso lixo contará nossa história para quem ousar pisar neste planeta de novo.
Ufa, desabafei.
Falemos de coisa boa. Notícia boa é notícia, sim. Claro que nem sempre o dinheiro deveria fazer as coisas girar. Existem outras coisas bacanas que os seres humanos fazem. Alguns preservam sua memória, sua cultura, seu jeito antigo de fazer as coisas. Outros se empenham para que a humanidade, por pior e menos grata que ela demonstre ser, evolua e melhore. Os seres mais evoluídos tentam dar sinais positivos para os mais atrasados. Irmã Dulce, que deveria ter sido santificada logo após a morte, obteve reconhecimento internacional recentemente, só que a burocracia papal precisa de três milagres reconhecidos e assinados por Deus. Ai meu saco. Acho que a Humanidade deveria ser um pouco mais grata a essas pessoas que realizam coisas boas. Ninguém se lembra quem recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2006, por exemplo, mas ninguém se esquece de Nikolai Ceausescu, só para citar um. Essas pessoas deveriam ser relegadas ao que elas merecem, o esquecimento ou, pior ainda, à indiferença.
A humanidade tem conserto, sim. Tem mais gente tentando preservar a raça do que os que a querem extinguir ou os que não se importam. Tem gente pelejando para que nossa existência seja menos dolorosa e um pouco mais divertida. São notas pequeninas nos jornais, muito discretas, empurradas para os cantos das páginas pelas imensas propagandas de página inteira ordenando que a gente compre o último modelo de tevê de plasma, ou a lavadora de quinze quilos, ou o “magic juicer” pra fazer suco de tudo. É fácil de encontrar.
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