Olá. Sejam bem-vindos ao meu blog. Finalmente, depois de muito assuntar, resolvi me jogar na blogosfera, espaço que já tem até estudo acadêmico a respeito. O nome do blog vem do meu perfil no orkut, em que coloco a seguinte frase: "Tenho opinião formada sobre tudo, sim: por isso é que sou essa metamorfose ambulante". Aqui nesse espaço vou colocar minha opinião e, quem sabe, publicar um romance que estou escrevendo, tipo novela das antigas, aquelas que eram publicadas em jornais e que multiplicavam por cem as tiragens dos jornais das décadas de 50.
Este primeiro post é um texto que escrevi no início do ano, um desabafo contra a porcaria bestificante que grassa por esse mundo-de-alice que é a internet.
FILTRO DE E-MAIL ou AS COISAS EM QUE ACREDITO
Caros amigos,
Resolvi escrever este texto diante do monte de e-mails que recebo, e olha que, dentre as pessoas que conheço, sou uma das que recebem menos. Pra começar, me perdoem se o texto ficar longo ou enfadonho demais, eu me esforço bastante para escrever do jeito menos desagradável possível, só que não tem jeito, falar de muitas coisas demandam esforço e paciência, o que encarecidamente peço de vocês neste momento.
As causas que me motivaram a este texto são várias, mas principalmente pela insistência da repetição de alguns tipos de e-mail que as pessoas acham que eu mereço receber, e a mensagem principal deste desabafo é: não, eu não mereço. Então, resolvi listar algumas coisas em que acredito para que, no futuro, o volume de e-mails que recebo passe por um incremento qualitativo, e o nível de amizade continue o mesmo. Se o que vocês leram até agora é o suficiente, podem parar de ler e passar para o próximo e-mail, não se sintam obrigados a ir até o fim.
Eu acredito neste país e no governante dele. Acredito que, a despeito de qualquer coisa risível que tenha feito em seu passado ou que esteja fazendo no presente, Luís Inácio Lula da Silva está fazendo um esforço enorme para que o Brasil ande com as próprias pernas. E acredito em Lula como acreditei em Fernando Henrique Cardoso e em Itamar Franco. Os três fizeram esforços hercúleos para colocar o país nos eixos, pois acredito que o Brasil, se estivesse ainda nas mãos de quem apoiou e votou em Fernando Collor(mesmo sabendo que Itamar foi vice dele), já teria virado um imenso e ingovernável Haiti, onde a classe média se refugia em seus feudos pintados de branco e deixam que os famintos se digladiem. Acredito que o problema principal de meu país esteja no jogo de interesses políticos que não levam nada em consideração a não ser a manutenção do poder e do dinheiro em poucas mãos. Se Lula está metido em coisas escusas, acredito que ele não é o primeiro e não será o único que montou uma máscara de coitadinho para chegar ao poder, mas não será por isso que vou deixar de acreditar nas coisas boas que vejo que ele está fazendo. Portanto, não mereço e-mails que envolvam o Presidente do meu país, seja ele Lula ou FHC. Como exemplo: recebi por e-mail, recentemente, uma foto do Luís Inácio da Silva feita para registro no DOPS, o Departamento de Ordem Pública e Social criado no governo dos militares, em meio a outras fotos curiosas de coisas que só acontecem em certos países. Mensagem implícita na foto: “só no Brasil acontece que alguém com passagem pelo DOPS chegue a presidente”. Bem, informação é muito importante: TODAS as cabeças pensantes deste país têm um registro no DOPS: Austregésilo de Athayde, o lendário presidente da Academia Brasileira de Letras; Fernando Gabeira; José Celso Martinez Corrêa; José Mindlin; Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil;Oscar Niemeyer; Danuza Leão; e não vou duvidar se FHC também tiver a sua. Naquela época, todo mundo que discordava dos militares era bandido. Por outro lado, coisas muito mais graves só aconteceram em outros países: um ator cowboy chegou à presidência dos EUA; um ganhador do concurso Mr. Universo chegou ao governo da Califórnia (EUA); um assassino chegou à presidência da Iugoslávia; um louco chegou à presidência da Alemanha; um sádico chegou à presidência do Chile, e idiotas governaram o Afeganistão por mais de quinze anos. Em outras palavras: me sinto privilegiado por haver nascido neste país e nesta época, e por isso valorizo muito minha condição de brasileiro do século XXI, e sou um ser político, pensante, observador, e de excelente memória.
Sou um leitor compulsivo. Leio obras primas e grandes merdas literárias, todas elas receberam meus respeitos. Sou um grande apaixonado pela língua portuguesa, uma das mais belas e sonoras do mundo. Não tenho nenhuma preguiça ou pressa de ler, e ler bem. Acredito que quem lê muito rápido consegue apenas conhecer o geral de uma obra. Pra mim, ler rápido é o oposto de ler com prazer. Lendo com prazer eu guardo informações preciosas acerca das obras, de seu autor, se é livro de estréia, em que contexto foi escrito, etc. Por essas – e outras – questões, não mereço e-mails escritos para serem lidos de forma rápida, assim:
Pq serah q vc naum pd scrvr komu gnt nrml? Hauhihihiuahaihuouiahhoho!!
Sinceramente, acredito que este tipo de escrita, típica do adolescente pós-moderno, é o assassinato formal da língua, de qualquer língua. É funcional entre eles, os adolescentes, e é até engraçado observar que essa nova-língua escrita está passando rapidamente para a língua falada, ou seja, estamos diante do nascimento de um novo dialeto, mas que isso seja boa notícia lá pras negas deles, pra mim não é. Bill Watterson, genial criador dos quadrinhos da dupla Calvin & Haroldo, resumiu bem a questão: “achar engraçado não significa aprovar”.
Ainda no assunto literatura: acredito que nem metade dos textos edificantes, estimulantes no ponto de vista espiritual é de real autoria de quem assina. Já houve o cúmulo de me mandarem um texto de Carlos Drummond de Andrade no qual se falava de internet e celular. Aquilo foi um acinte à minha inteligência, pois Drummond faleceu oito ou dez anos antes do surgimento destas tecnologias. Psicografado? Talvez, mas eu acredito que Chico Xavier e seus seguidores sérios sejam bem parcimoniosos quanto a este tipo de divulgação. Assim, não mereço receber e-mails com frases edificantes assinadas por pessoas famosas. Mereço apenas as frases edificantes, já vou ficar muito agradecido à pessoa que enviou. E-mails em que as letrinhas ficam pingando ao som de Richard Clayderman eu até suporto, tirando o som e dando page-down como quem joga vídeo-game.
Não acredito que Deus, Jesus ou Nossa Senhora Aparecida já tenham acessado a internet, mas seus seguidores já, e por isso orações e suas variantes, como desejos de saúde e prosperidade, honra e contentamento, são sempre bem-vindas. Acredito que a religião (ou a abstenção) deva ser um ato pessoal, intransferível e inviolável. Por isso, mensagens do tipo “o meu Deus é melhor que o seu”, para mim, são menos que lixo. Além disso, não mereço receber ordens do tipo “reze para seu anjo do dinheiro que você será recompensado”. Não, eu não vou fazer isso porque eu não transformo o dinheiro em deus. É ele que me serve, não o contrário. Se eu não tenho muito dinheiro agora, eu estou trabalhando para isso, e aí, sim, os anjos do trabalho e da saúde têm me valido bastante.
Todas as correntes “sérias” e “verdadeiras” morrem na minha caixa de e-mails. Os motivos são vários. Em primeiro lugar, não acredito nelas. Também não me sinto nem um pouco ameaçado por aquelas que me proíbem de cortar “o fluxo”, faço isto desde quando elas eram via carta de papel, e nunca aconteceu o que elas prediziam, seja para o bem, seja para o mal. Além disso, acredito que minha vida real é bem mais interessante que a virtual, e por isso não vou colocar a primeira para ser julgada pela segunda. Não mereço ter o meu nível de amizade por outra pessoa julgado por uma máquina, por exemplo. Sou mais inteligente que isso. Portanto, não vou enviar e-mails para vinte pessoas e esperar a resposta de quem é meu amigo de verdade. A amizade eu testo olhando nos olhos. Não vou enviar e-mails para que a Joaninha Tadinha ganhe a sua cadeira de rodas de presente da Samsung. Assim como eu não mereço receber coisas deste tipo, acredito que meus amigos também não. O mesmo vale para correntes de boicote. O mais recente que recebi foi um convite ao boicote à Petrobras para impedir que a empresa aumente o preço da gasolina. Outra vez, informação é importante: quem aumenta a gasolina é a Agência Reguladora do setor, e ela responde não só pela Petrobras, mas por todas as outras distribuidoras de gasolina. É um caso a se pensar, só que desta vez a desconfiança também é importante: e se esse boicote foi proposto e programado pela concorrência da Petrobras, a saber as multinacionais Texaco e Shell, para que com isso elas abocanhem fatias maiores do mercado brasileiro, em franca expansão, e mandem nosso suado dinheirinho para encher o rabo de americano que não tem mais onde enfiar dólar? O referido e-mail é muito bem escrito e é convincente, mas só para quem não tem a postura política de observar, memorizar e utilizar a informação correta. Não sei de onde tiraram informações de preços de gasolina da Venezuela, mas o texto escamoteia coisas importantes que nem sempre estão visíveis para analfabetos políticos. Este tipo de corrente nunca foi séria o suficiente para que eu dê crédito, e isso é triste, pois acredito que pessoas desonestas estragaram um meio quase perfeito de mobilização popular justamente por ser imenso, altamente anônimo e coberto de impunidade, prato cheio para hipócritas oportunistas. Exceção: quando eu realmente conheço a pessoa ou o objeto da corrente em questão, eu assino embaixo, mas isso aconteceu apenas uma vez, e olha que tenho e-mail há dez anos.
Gosto e mereço receber fotos de trabalhos artísticos (me mandaram um com esculturas feitas com lápis de cor que são um deslumbre), fotos de viagens (tenho amigos e parentes que viajam bastante e me brindam com suas aventuras deliciosas), textos de próprio punho, de preferência que comecem com um “oi, meu amigo, que saudade de você!”, curiosidades do YouTube e textos edificantes. Leio todos, descarto os que não me agradam, e sigo em frente. E-mails em cuja caixa de assunto está escrito Fw:Enc:Fw:Fw eu nem abro por acreditar que amigos não devam ser lembrados como parte de um grupo, e sim como um ser único. Recebo, sim, e com muito prazer, e-mails de divulgação de eventos e comunicação de grupos: são informações de interesse comum, e faz parte da democracia disseminar boas informações.
Por fim, peço que me perdoem o extenso desabafo. Se vocês tiveram paciência de chegar até aqui, posso acreditar que o que escrevi chegou em bons olhos, mesmo que não concordem comigo. Para mim, ouvir é mais importante que concordar. Me perdoem também por não me dirigir individualmente a cada um de vocês, amigos, conhecidos, colegas: se eu fizesse assim, eu correria o risco de parecer estar julgando vocês, e não é esta, de forma nenhuma, minha intenção. A amizade, o conhecimento e o coleguismo de vocês são conquistas da minha vida, e acredito que estes bens sejam invioláveis.
Com apreço,
Jader Vinício Corrêa
Primeiro de fevereiro de 2008
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