Tom Ford foi o designer que levantou o nome Gucci no mercado internacional de moda. Sinônimo de simplicidade e sofisticação, Ford imperou por anos na casa italiana. Aí, de repente, a Gucci foi vendida para um conglomerado internacional, e Ford, aparentemente, desistiu do mundo da moda e sumiu.
Sumiu para ressurgir, dois anos depois, cineasta e já apresentando prêmio no Oscar, com seu ator principal, Colin Firth, candidato a melhor ator.
Comecemos pelo título. Direito de Amar não é uma boa tradução para o original, A Single Man. Primeiro porque não tem nada a ver. O personagem de Colin não está lutando por um direito de amar. Esta é uma mensagem que não está nem nas entrelinhas do filme. Me parece mais panfletarismo gay, e dos mais inúteis, pois é um clichezaço. Segundo: a palavra single, em inglês, significa três coisas: solteiro, simples (no sentido de solitário) e singular (no sentido de único).
O filme é um filme de designer. Seco, austero e visualmente muito, muito sofisticado.
A história é baseada num livro de Christopher Isherwood, mais conhecido porque escreveu Adeus a Berlim, que inspirou o filme Cabaret (Money makes the world go round, lembra?) do que por ter encabeçado um importante movimento gay nos EUA na década de 60. Não li o livro, mas me pareceu que a escolha de situar a história nos anos 60 foi do diretor, justamente porque foi uma década em que o design americano era seco, austero e muito, muito sofisticado. Enfim, é a trajetória de um dia na vida de um homem que está lutando para superar a perda do companheiro, um casamento de 16 anos que termina de maneira trágica, e manter as americanas aparências de um professor universitário. É um filme bobo na essência (já vi filmes de temática gay bem mais interessantes, como Bubble), pois é tão óbvio que quase vira um clichê, mas esteticamente é uma das coisas mais belas que já vi. Os signos pulam da tela e conversam com você, e quando isso acontece para mim é um êxtase de fruição. A interpretação de Colin Firth é irretocável, e é o segundo trunfo de Ford. Mas é só. Filme-melão, não fosse o brilho e a força das imagens do primeiro filme do ex-enfant terrible da Gucci.
ANIMA DECOLORUM EST
sábado, 17 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
BABAGAMUSH E O SEGREDO DOS OLHOS TEUS
Fico pensando naquela música da Maria Bethânia, com participação da sempre elegante - até na voz - Jeanne Moreau, Poema dos Olhos da Amada: "Quantos navios, quantos saveiros, quantos naufrágios, nos olhos teus..."
Mais que da alma, os olhos são o espelho das grandes interpretações desse filme argentino, ganhador do Oscar deste ano. É incrível ver um filme que desabrocha diante dos olhos, e cujo ápice - o final - é tão desconcertante.
A história é de uma simplicidade exemplar: jurista aposentado resolve ser escritor, e nessa tentativa, resolve 25 anos depois repisar um caso do qual participou e que o havia marcado. Os fatos e personagens dessa história em particular vão se desabrochando, cada pétala um cheiro diferente, até que, quando chega o final, a gente não sabe se sente repulsa ou satisfação pelo que acaba de acontecer. É um filme extremamente bem realizado, muito sensível, e se você leitor, desde o início, prestar atenção nos olhares dos atores - talentosíssimos, apesar do quase ininteligível espanhol argentino - vai compreender muito mais signos do que eu.
Outra comparação inevitável: porque a Argentina já está com dois Oscar de Filme Estrangeiro, e o Brasil só conseguiu morrer na praia por quatro vezes? A resposta é longa, mas vou abreviá-la apenas para provocar uma reflexão.
O Brasil copia o modelo americano, ou seja, não sabe fazer cinema. O Brasil ganha dos portenhos com seu Teatro, mas este não é artigo de exportação. O cinema brasileiro (assim como o americano), é passional demais, sem equilíbrio entre drama e comédia: não existe respiro, se é comédia não pode ter drama, se é drama não pode ter alívio cômico. O cinema argentino sabe dosar as duas coisas, o que deixa suas obras com uma densidade que o mundo está acostumado e apto a assistir. O Brasil faz cinema de entretenimento. A Argentina conta boas histórias.
O resto, o segredo, está dentro dos seus próprios olhos, leitor.
Mais que da alma, os olhos são o espelho das grandes interpretações desse filme argentino, ganhador do Oscar deste ano. É incrível ver um filme que desabrocha diante dos olhos, e cujo ápice - o final - é tão desconcertante.
A história é de uma simplicidade exemplar: jurista aposentado resolve ser escritor, e nessa tentativa, resolve 25 anos depois repisar um caso do qual participou e que o havia marcado. Os fatos e personagens dessa história em particular vão se desabrochando, cada pétala um cheiro diferente, até que, quando chega o final, a gente não sabe se sente repulsa ou satisfação pelo que acaba de acontecer. É um filme extremamente bem realizado, muito sensível, e se você leitor, desde o início, prestar atenção nos olhares dos atores - talentosíssimos, apesar do quase ininteligível espanhol argentino - vai compreender muito mais signos do que eu.
Outra comparação inevitável: porque a Argentina já está com dois Oscar de Filme Estrangeiro, e o Brasil só conseguiu morrer na praia por quatro vezes? A resposta é longa, mas vou abreviá-la apenas para provocar uma reflexão.
O Brasil copia o modelo americano, ou seja, não sabe fazer cinema. O Brasil ganha dos portenhos com seu Teatro, mas este não é artigo de exportação. O cinema brasileiro (assim como o americano), é passional demais, sem equilíbrio entre drama e comédia: não existe respiro, se é comédia não pode ter drama, se é drama não pode ter alívio cômico. O cinema argentino sabe dosar as duas coisas, o que deixa suas obras com uma densidade que o mundo está acostumado e apto a assistir. O Brasil faz cinema de entretenimento. A Argentina conta boas histórias.
O resto, o segredo, está dentro dos seus próprios olhos, leitor.
Assinar:
Postagens (Atom)