ANIMA DECOLORUM EST

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sábado, 10 de abril de 2010

BABAGAMUSH E O SEGREDO DOS OLHOS TEUS

Fico pensando naquela música da Maria Bethânia, com participação da sempre elegante - até na voz - Jeanne Moreau, Poema dos Olhos da Amada: "Quantos navios, quantos saveiros, quantos naufrágios, nos olhos teus..."
Mais que da alma, os olhos são o espelho das grandes interpretações desse filme argentino, ganhador do Oscar deste ano. É incrível ver um filme que desabrocha diante dos olhos, e cujo ápice - o final - é tão desconcertante.
A história é de uma simplicidade exemplar: jurista aposentado resolve ser escritor, e nessa tentativa, resolve 25 anos depois repisar um caso do qual participou e que o havia marcado. Os fatos e personagens dessa história em particular vão se desabrochando, cada pétala um cheiro diferente, até que, quando chega o final, a gente não sabe se sente repulsa ou satisfação pelo que acaba de acontecer. É um filme extremamente bem realizado, muito sensível, e se você leitor, desde o início, prestar atenção nos olhares dos atores - talentosíssimos, apesar do quase ininteligível espanhol argentino - vai compreender muito mais signos do que eu.
Outra comparação inevitável: porque a Argentina já está com dois Oscar de Filme Estrangeiro, e o Brasil só conseguiu morrer na praia por quatro vezes? A resposta é longa, mas vou abreviá-la apenas para provocar uma reflexão.
O Brasil copia o modelo americano, ou seja, não sabe fazer cinema. O Brasil ganha dos portenhos com seu Teatro, mas este não é artigo de exportação. O cinema brasileiro (assim como o americano), é passional demais, sem equilíbrio entre drama e comédia: não existe respiro, se é comédia não pode ter drama, se é drama não pode ter alívio cômico. O cinema argentino sabe dosar as duas coisas, o que deixa suas obras com uma densidade que o mundo está acostumado e apto a assistir. O Brasil faz cinema de entretenimento. A Argentina conta boas histórias.
O resto, o segredo, está dentro dos seus próprios olhos, leitor.

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