ANIMA DECOLORUM EST

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terça-feira, 11 de maio de 2010

BABAGAMUSH E O FANTASMA DE POLANSKI

Roman Polanski terminou as filmagens do roteiro baseado no livro de Robert Harris e foi preso. Daí, saboreando toda essa história, dei de cara com o tal livro na Biblioteca Pública.

Acabei de lê-lo. Fiz isso durante os últimos seis dias, vendo Pierce Brosnan como o ex-Primeiro Ministro Britânico e Ewan McGregor como o escritor. Acabo de ver o trailer no YouTube. Tudo assim, num estalar de dedos, como muitos órgãos de imprensa nos fazem acreditar que seja o ideal de uma sociedade pós moderna.

Eu fico muito admirado de ler um romance escrito assim, com bem pouca linguiça cheia. Aquelas descrições extremamente detalhadas do ambiente em que o personagem está, que matam a gente de tédio e que servem apenas para deixar o livro mais grosso, foram enxugadas ao máximo, para cumprir apenas a sua função primordial, que é criar o clima da cena. O livro de Harris é soturno e sempre em suspenso, como o clima que permeia a maioria das cenas. Livro típico escrito para virar mais um filme de suspense comum nas mãos de qualquer um em Hollywood. Entretanto, a surpresa de cara é com Polanski. O diretor polonês enxergou algo de autobiográfico no livro, o fato de um dos personagens temer os acordos e desacordos de extradição de criminosos entre os países, e viu sua chance de expurgar o imbróglio em que se meteu com uma menor de idade nos anos 70. Seu companheiro de orgia, Jack Nicholson, se safou, talvez por ser americano e apenas um ator. Ele, judeu polonês, diretor de O Bebê de Rosemary, A Dança dos Vampiros, O Inquilino, Repulsa ao Sexo e outras esquisitices, não pôde mais pisar em solo americano. Enfim, Polanski viu no livro a possibilidade de ser melhor que Hollywood. Pelo trailer, acho que conseguiu, o que não é muito difícil.

Escritor-fantasma (ghost-writer, em BOM português) profissional é contratado para fazer a "autobiografia" de um ex-primeiro ministro britânico. Até aí, nada de mais, mas estoura um escândalo relacionado a direitos civis ignorados pelo então chefe de Estado inglês, e o que era uma simples rotina de entrevistas e escrevências se torna jornalismo investigativo. Bem ao clima de outro Polanski, Busca Frenética, estrelado por Harrison Ford. Sabe livro escrito com tinta à base de baba de quiabo, para ser deglutido rápido? Assim, sua ânsia de chegar à solução do enigma passa por cima de quaisquer falhas que porventura haja no caminho, seja de autoria, seja de tradução.

O filme, espero, deve ter algo de inesquecível. Afinal, é um Polanski, e está cercado de suspense com essa prisão arbitrária do polonês em solo suíço que, de repente, fez um acordo de extradição de criminosos (?) com os Estados Unidos, abrindo um precedente perigosíssimo para o até hoje símbolo internacional da neutralidade política. Isso mesmo, acho que a prisão do Polanski, depois de levar às telas um livro como esse, tem um caráter mais político que qualquer outro. Claro, a comunidade internacional está pressionando a Suíça para tirar o véu de confidenciabilidade de seus clientes bancários, e Polanski acabou virando boi de piranha nessa história.

Mexer em ferida dá nisso.

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