ANIMA DECOLORUM EST

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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Em busca do Ponto G

Então, em pleno inverno, lançamos o que vai estar usando no verão.
Desde sempre, de vez em quando eu presto atenção a conversas femininas relacionadas à moda - no caso, a moda das sacoleiras, em nada comparado ao "preço sob consulta" das páginas da Vogue - e, volta e meia, vinha delas essa frase: "Isso é o que vai estar usando". Ok, beleza. Quem "vai estar usando"? Quem "vai estar usando" o quê? A frase se tornou genérica para as tendências da próxima estação, pelo menos entre as sacoleiras. Só que este não é o ponto de vista pelo qual eu analiso a moda: meu negócio é a política do negócio.
Meu projeto de graduação na escola superior de design foi sobre a história da moda. Foi um mergulho muito interessante nesse fenômeno. A trajetória da roupa, se fosse acompanhada por um lápis sobre um papel, faria o desenho de uma longa onda senoidal: uma tendência surge (a parte baixa da onda), vai crescendo, chega a um ápice (ou exagero) e decresce até sumir e ser substituída por outra. A explicação para isso deve retroceder nos séculos. Desde que ultrapassou o conceito de proteção ao frio, a roupa significa status, uma forma de organizar a sociedade, dividindo-a para que fosse mais fácil administrá-la. Hoje, a necessidade de divisão para melhor aplicação da democracia (ô piada...) não existe porque o conceito grego de democracia há muito se perdeu: hoje a roupa divide as classes pelo poder de compra. Antes, só um nobre possuía recursos suficientes para colorir uma túnica; hoje, estampa-se dois C's cruzados em uma haste de óculos apenas para se dizer "eu posso, você não pode".
Ver uma mulher usando uma sandália simplesmente horrorosa só porque ela leva o label de Fulano é muito triste, demonstra falta de personalidade ou, em última instância, baixa auto-estima, o que eu acho que as mulheres não merecem, nunca mereceram.
A mulher (e o homem, claro) que sabe onde fica o seu ponto G (de Glamour) não embarca nessa de "vai estar usando". Para ela (ele), no fundo, é que os grandes criadores trabalham. Só que o que é apresentado em passarelas, os conceitos que vão valorizar a marca no mercado (sobre esse assunto eu não gostaria de falar) e que são o lado escuro da moda, são pasteurizados à exaustão para serem vendidos aos montes nas grandes magazines e engolidos pela massa sem qualquer raciocínio crítico. Ver uma mulher de curvas renascentistas tentando caber no corpete que foi usado pela Bündchen é antes de tudo trágico.
E a Semana de Moda de São Paulo termina com mais um balde de conceitos para as sacoleiras faturarem com "o que vai estar usando". É nessas horas que eu me lembro da Beth Lago, tão superior a isso tudo, dona de seu próprio estilo e sabendo muito bem onde fica o Ponto G dela: os puro-sangues estão, definitivamente, em extinção.

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