ANIMA DECOLORUM EST

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domingo, 22 de junho de 2008

Em defesa de João Emanuel Carneiro

Eu não costumo acompanhar novelas. Geralmente estou muito cansado após o dia de trabalho, e depois do jantar prefiro a companhia de meu computador e minhas palavras. As novelas são sempre as mesmas - a disputa pelo poder nas empresas Tal, as ações que mudam de mão, os golpes para chegar à diretoria, a investigação pelo assassinato de Fulano, as mulheres que passam do mocinho para o vilão e vice-versa. Só mudam os nomes dos personagens e, é óbvio, os atores que os interpretam. Por isso, para saber como uma novela vai seguir, para mim basta que eu assista o primeiro capítulo de uma, no máximo o segundo. Ali os personagens são apresentados, a trama se desenha e, para mim, já conta como vai ser o final. O resto eu acompanho pelas capas das revistas de fofoca.
Assim como os livros, se uma história não "pega" para mim no primeiro capítulo, eu a abandono sem constrangimentos. Para mim, são as "merdas literárias" às quais já me referi. Por esse motivo, cansado de ver repeteco de temas e tramas nos folhetins televisivos, já não me importo mais com eles. É a mesma coisa desde Brilhante (1981, Gilberto Braga), salvo raríssimas exceções (Guerra dos Sexos, 1985, Silvio de Abreu, Roque Santeiro, 1986, Dias Gomes, e Que Rei sou Eu, 1989, Silvio de Abreu) e, sinceramente, tenho mais a fazer com o meu tempo do que ver coisas repetidas.
Ibope não me interessa. Me interessa é saber se o texto é bacana ou, no máximo, se a trama está sendo bem conduzida ou, também, se os atores estão trabalhando bem. Mas tem uma novela que me "pegou" no primeiro capítulo, o texto, mesmo versando sobre uma trama repetida, é excepcional, e os atores são irrepreensíveis. Pela primeira vez em anos, eu me interessava por um folhetim do horário nobre, estava vendo frescor naquele texto que permitia aos atores exercitarem o que neles havia de melhor.
E eis que o Ibope sugere mudanças no folhetim, pelos baixíssimos pontos que a novela alcançou. E eis aí o motivo desta postagem.
Não concordo com a interferência na trama do João Emanuel Carneiro. Não acho que ele deva ser punido pelo fato do folhetim não ter caído no gosto do brasileiro. Só que estamos falando de arte (o texto, a direção de arte e a interpretação dos atores), e novela é, infelizmente, business. Novela em horário nobre pouco assistida perde valor de mercado, o valor por segundo do espaço comercial cai muito, e o lucro esperado de vinte milhões corre o sério risco de cair para dezenove, o que seria um absurdo. Por isso, e somente por isso, a novela deve sofrer interferência. É uma grande pena.
Discutir gosto é saudável. Torna a gente capaz de comparar as coisas. Mas não é surpreendente que a primeira novela em anos a me "pegar" desde o primeiro capítulo, aquela na qual vi algo que a diferenciasse das outras em qualidade e possibilidades, seja justamente aquela que está batendo recordes negativos de aceitação pública? Será que o público só consegue digerir o mesmo cardápio? Alergia a elementos novos? Sei não. Que ciclo vicioso será este?
Novelas são um meio eficaz de se avaliar o que as pessoas estão pensando, sejam elas da alta classe média, aquela que toma as decisões, ou da baixa classe média, aquela que aponta as tendências do Ibope. No caso do "bom gosto" do público, poderíamos tirar o "I", não acham?

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