Pois é, fui ver Denise Stocklos. Conheci essa mulher na década de 80, através de um programa de entrevistas da Rede Cultura chamado O Advogado do Diabo, cujo entrevistador era ninguém menos que Sargentelli. Não, você não está se equivocando, tampouco eu estou: aquela voz cavernosa era mesmo do cara das famosas mulatas.
O espetáculo tem, pelo menos, quatro anos, data em que um amigo meu o assistiu no Rio de Janeiro. Ou seja, em se tratando do ícone cultural que Denise se tornou ao longo da carreira, com seu talento e profissionalismo, era de se esperar que o espetáculo estivesse mais que maduro a esta altura.
Vocês estranhariam se eu dissesse que me decepcionei com essa esperança?
Parecia, no mínimo, que Denise não fazia este espetáculo há um bom tempo. Pausas fora de hora e lugar, respirações entrecortando e estrebuchando as frases do monólogo me deram a nítida impressão de que ela estava pelejando para lembrar o texto, e isso me incomodou profundamente. Se aquele monte de equívocos, palavras trocadas, hesitações, suspiros, faziam parte da interpretação, de forma a aproximar o texto da platéia e sugerir que aquilo estava sendo criado ali na hora, para mim funcionou foi como um contraponto bem esquisito à soberba performance corporal e facial da artista. As duas coisas juntas não batiam bem. Me lembrei de uma performance que resolveria bem esta questão: o espetáculo da francesa Isabelle Huppert, imóvel no centro do palco por mais de duas horas, só falando.
Eu queria mais liga naquele texto, que é bonito, é poético, me atiça, me instiga, mas que não consegui fruir como acho que ambos, texto e eu, merecíamos. Tirando isso, o material facial e corporal que Denise nos oferece é irretocável, é de uma beleza plástica, poética, instigante sem tamanho. Bebi cada segundo de sua incrível gestualidade.
Queria ter visto o espetáculo com Denise menos cansada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Biiiip. No momento não posso atender. Deixe seu recado após o sinal. Biiiip.