IMPEACHMENT É UMA COISA QUE ME CHOCA
Principalmente quando pretende
substituir um mandatário ruim por outro pior ainda.
Principalmente quando o cheiro de
enx... quer dizer, o cheiro de golpe é forte.
Realmente, a internet é a
invenção mais poderosa desde o tacape. É a mais útil desde a roda. E é a mais
perniciosa desde a moeda. É o excesso de informação de todos os níveis que
banaliza a informação importante, preconizada em 1932 (!) por Aldous Huxley, em
Admirável Mundo Novo. Só que Huxley não parou aí: no livro ele prevê que as
pessoas seriam escravizadas pelo excesso de entretenimento que gera prazer (?),
outra coisa que o advento da Rede Mundial provê em larga escala. Oh, sim, não
se engane: estamos escravizados, sim.
Tá dominado, tá tudo dominado.
Mas tá tranquilo, tá favorável.
Mas se não fosse a internet pouca
gente veria os espetáculos grotescos que estão acontecendo desde que foi
deflagrada a corrida para tirar a esquerda (leia-se PT...) do poder. Sim, porque
se dependesse da mídia tradicional, veríamos apenas recortes e acreditaríamos
em tudo. Por exemplo: se víssemos a sessão apenas pelos olhos da Rede Globo,
acreditaríamos que Jean Wyllys merece a cassação porque faltou com o decoro com
o excelente e formidável deputado Jair Bolsonaro; acreditaríamos piamente na
brava determinação de Aécio Neves de “correr com os trabalhos” no Senado para
referendar a decisão da Câmara.
Graças à internet, sabemos que
não é beeeem assim que as coisas são. Sabemos que o decoro parlamentar do Sr.
Bolsonaro, que dedicou seu voto ao carrasco mais abjeto que atuou no período da
ditadura militar (e que morreu impune), foi bem pior. E sabemos de coisas a
respeito de Aécio que desabonam completamente esse brio que ele aparenta – uma
delas é que, se vitorioso, o referendum ao impeachment será o primeiro projeto
de relevância do senador em SEIS anos de mandato, recebendo a bagatela de 120
mil reais por mês (salário + benefícios + verba de gabinete), indo trabalhar,
quando muito, em oito sessões por mês. Isso dá 11 milhões e 520 mil reais.
Com a internet, não teve como
esconder a verdadeira cara do Congresso Nacional, formado em sua ampla maioria
(65%) por deputados “guarda-chuva”, aqueles que conseguiram acessar o cargo na
carona de votações expressivas de “deputados-âncora” do naipe de Tiririca (1.348.295
votos). Ou seja, deputados que não entraram no Congresso pelo montante de votos,
mas por estar no partido certo no pleito certo, e que, por isso, não envergam
nenhum compromisso com seu eleitorado.
O difícil de engolir em um impeachment
como esse é que a oposição de direita, que quer fazer o partido apear do poder
depois de 13 anos de real desenvolvimento do país, não ser capaz de apresentar
uma alternativa relevante. Outra coisa difícil de engolir é o motivo, uma
manobra político-econômica que, mesmo não estando estritamente correta, não
configura crime de responsabilidade. Mas como a jurisprudência foi criada, cabe
a pergunta: o governador de São Paulo cometeu a mesma
"irresponsabilidade" - onde está o pedido de impeachment dele, que
ainda não foi protocolado?
A movimentação ao redor desse processo é
grande. Enquanto isso, projetos que retiram direitos do trabalhador para que
empresas grandes consigam obter mais lucros ainda (e escapar de processos
judiciais milionários) conseguem passar no Congresso, "na surdina". Além
disso, há movimentação acerca da revogação do Marco Civil da internet, pioneiro
no mundo, e da reabertura de partilha do Pré-Sal. Em outras palavras: querem
apear o partido do poder para arreganhar de vez as pernas para as grandes
empresas estrangeiras. Mais que achincalhar com a soberania e a liberdade duramente
conquistadas, o impeachment está funcionando para isso: como "boi de piranha",
o que é realmente relevante para o país é relegado a terceiro plano.
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